HISTÓRIA: Trechos de livro de 1879 mostram fatos curiosos que ocorreram no Brasil



   Trechos do livro "Brazil and the Brazilians" publicado em 1879 (139 anos atrás) escrito pelos Reverendos americanos de nome "James C Fletcher" e "D. P. Kidder" que passaram vários anos vivendo no Brasil, viajando pelo país e analisando a cultura, os costumes, o estilo de vida dos brasileiros da época (século 19), os quais registraram neste livro.


  Eu li alguns pedaços deste livro e gostaria de compartilhar alguns trechos de acontecimentos que me chamaram a atenção por vários motivos. 

  Vou começar pela parte que fala dos negros no Brasil, que eu achei extremamente interessante e que foi bastante comentada pelo autor do livro (na época ainda existia escravidão) .
  O Reverendo Fletcher e o Kidder narra alguns causos que ele soube/presenciou.



TRECHO TRADUZIDO PARA PORTUGUÊS  (  as partes dentro de parentêses foram acrescentadas por mim para complementar o entendimento):



  " No Rio (de Janeiro), os negros pertencem a muitas tribos, algumas sendo hostis
umas com as outras, tendo diferentes usos e linguagens. 
O negros da "Mina" permanecem maometanos , mas os outros são nominalmente
Católicos romanos.
   Muitos deles, no entanto, continuam suas práticas pagãs. 

   (...)

   Existe uma singular sociedade secreta entre os negrosna qual o melhor lugar no rank (ou ranking, como de uma competição) é atribuído ao homem que tirou mais vidas.
   Eles não são tão numerosos quanto antigamente (os participantes desta sociedade secreta), mas de vez em quando ferem os que não os ofenderam.
  Esses negros se autodenominam "capoeiros" e na festa eles saem correndo à noite e destroçam qualquer outro negro que por acaso encontrem.
  Eles raramente atacam os brancos, sabendo, talvez, que isso custaria muito caro."


(Trecho retirado das páginas 136 - 17 do livro)


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  Definitamente, o trecho é extremamente interessante. Descobrimos que naquela época haviam negros no Rio de Janeiro que eram islâmicos (é isso que significa o termo "maometanos", seguidores de Maomé). Aparentemente, com o tempo, a tradição islâmica que existia no meio afro carioca desapareceu sem deixar rastros.

 Outra coisa curiosa é esta espécie de competição que negros de uma certa sociedade secreta da época praticavam, onde durante "as festas", eles saiam de noite para matar qualquer negro que encontrassem pelo caminho, e havia até um ranking, onde o vencedor seria aquele que matasse mais.

 Me pergunto da onde esta sociedade secreta surgiu e se tinha alguma ligação com a Maçonaria da época.

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TRECHO TRADUZIDO PARA PORTUGUÊS  (  as partes dentro de parentêses foram acrescentadas por mim para complementar o entendimento):

 

" No Brasil, tudo gira em favor da liberdade, e tamanha são as facilidades para um
escravo emancipar-se (...)
 Alguns dos homens mais inteligentes que conheci no Brasil - homens
educados em Paris e Coimbra- eram descendentes de africanos, cujos antepassados eram escravos. Assim, se um homem tem liberdade, dinheiro e mérito, por mais negro que seja a sua pele, nenhum lugar na sociedade é recusado a ele.
  É surpreendente também observar a ambição e o avanço de alguns dos homens com sangue negro em suas veias. 
 A Biblioteca Nacional  fornece não apenas salas tranquilas, grandes
e muitos livros para os que buscam conhecimento, mas caneta e papel são fornecidos para ajudar nos estudos.
   Alguns dos estudantes mais ocupados com isso são mulatos. 
  Um grande e bem sucedido estabelecimento de impressão no Rio de Janeiro era de propriedade e dirigido por um mulato.
  Nas faculdades, de medicina, direito e escolas teológicas, não há distinção de cor. Deve, no entanto, ser admitido que exista um certo -  embora de modo algum forte - preconceito em todo território em favor de homens de descendência branca pura.
  Em alguns casos de espólio, um escravo poderia ir diante de um magistrado, ter seu preço fixado, e comprar-se; (...) "


(Trecho retirado da página 133 do livro)


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Ilustação do Museu Nacional retirada do livro:





  Em vários pontos do livro, há notas do autor ou citação de outras pessoas no rodapé comentando sobre a grande diferença entre o tratamento dado aos negros no Brasil e nos Estados Unidos. Chances que os negros no Brasil possuíam de subir na vida, eram praticamente inexistentes no país do autor.
   É curioso também notar como os tribunais da época no Brasil pareciam ser mais integros e com bom senso, não negando certas possibilidades a um escravo (ou seja, apesar da condição de escravo não ser a ideal, ele ao menos tinha a chance de ser atendido em um tribunal e conseguir certas coisas).
  Um outro caso que demonstra isso está relatado abaixo:

  
" O seguinte é um caso curioso (...) de Fevereiro de 1853, quando um negro foi submetido a julgamento ante um juri com a acusação de portar um canivete (...). Não parecia que o negro tinha machucado ou ameaçado alguém, mas o crime era a possessão de um artigo proibido. Durante o julgamento, um homem branco apareceu e reivindicou o negro como sendo seu escravo. Essa reinvidicação foi adicionada ao caso em julgamento, e o júri foi encarregado de determinar se ele era livre ou o escravo do reclamante.
 Eles descobriram, com o juiz dando o voto decisivo, que ele era livre, e, por dez votos, que ele era culpado do crime (de possessão de artigo proibido). Ele foi sentenciado a um mês de prisão como um homem livre.
  Por conseguinte, ele obteve uma sentença judicial que garantiu sua liberdade e teve que ficar um mês como inquilino na cadeia. Que canivete de sorte o dele!"



(Trecho retirado das páginas 265-266 do livro)





    Outro dos trechos que mais achei interessante foi este:


TRECHO TRADUZIDO PARA PORTUGUÊS  (  as partes dentro de parentêses foram acrescentadas por mim para complementar o entendimento):



"Eu conversei muito com um velho negro, que lembrava quando, mais de meio século atrás, ele foi roubado na costa da África, mas não se lembrava de jamais ter ouvido a história da Criação e da Redenção (Gênesis e o Novo Testamento da Bíblia), então eu me empreguei em me esforçar para derramar na mente dele alguma luz sobre o maior de todos os assuntos para o homem. Ele achou muito interessante e disse "Muito bonito". "


(Trecho retirado da página 397 do livro)


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  Achei esta parte do livro muito emocionante. Ainda mais em saber que é a descrição de um acontecimento real e de uma conversa real que se passou há mais de um século entre um negro capturado diretamente da África - e que ainda se lembrava disso - e um pesquisador americano que também era um Reverendo (título religioso). 

  No trecho a seguir, sabemos que alguns negros conseguiram voltar pra sua Terra natal, e que outros desejavam fazer o mesmo - embora temerosos de que fossem caçados novamente pra ser escravos (eu, no lugar deles, temeria a mesma coisa). Esse trecho é interessante porque mostra que vários dos africanos preferiam retornar para a África, não tendo interesse em morar no Brasil, mesmo sendo livres. 



TRECHO TRADUZIDO PARA PORTUGUÊS  (  as partes dentro de parentêses foram acrescentadas por mim para complementar o entendimento):


 "Quando a delegação da Sociedade Inglesa de Amigos visitou o Rio de Janeiro em 1852, estavam sendo esperados por uma delegação de oito ou dez negros de "Mina". Eles ganharam dinheiro através do trabalho duro e tinha comprado sua liberdade, e agora estavam desejosos de retornar a sua terra natal. Eles tinham fundos para pagar a passagem de volta para a África, mas queriam saber se a costa estava realmente livre dos traficantes de escravos. Sessenta dos seus companheiros tinham saído do Rio de Janeiro para Badagry (costa de Benin) no ano anterior, e aterrissado em segurança."


(Trecho retirado da página 136 do livro)


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   Antes do trecho acima, está escrito no livro que haviam certos africanos que falavam árabe e que eles não eram compreendidos por outros africanos nem pelos portugueses.
   E após o trecho exposto acima, descobrimos que o chefe desse grupo de negros livres que queria retornar pra África era um maometano que inclusive sabia escrever em árabe (o autor ainda detalha que a caligrafia desse homem era incrivelmente bonita).
   Ou seja, é presumível que ao menos alguns dos negros que foram roubados da África eram letrados, e não "selvagens" (que vive na selva) como muitos imaginam. Pode se concluir ainda que os que eram da fé islâmica eram mais educados que os outros.


 Abaixo, algumas das outras ilustrações existentes no livro:

 
"O PADRE"

"LAVANDEIRAS"

"ARQUEIROS CABLOCOS"


"INDO À MISSA"



"MATANDO JUDAS" (celebração folclórica)






Você pode fazer o download do livro neste link.

Comentários

  1. Eu não sei sobre os capoeiros, mas o pessoal não gostava que os negros praticavam a capoeira pois diversas rebeliões de negros ocorreu através dessa arte marcial, na região do nordeste ocorreram muitas, uma pena que nossa história não é conservada, vendem que os negros aceitaram ser escravo. Pouco se falam dos negros e descendentes que foram grandes, normalmente só se valoriza nos esportes e musica popular. A história oficial do Brasil muda a cada 30 ou 50 anos. Não sabemos o que ocorreu através de documentos(pouca quantidade e baia qualidade, maioria esta em Portugal), nossos historiadores são uma piada, fazem propaganda para quem esta no poder. Se lermos sobre as guerras na época do império e confrontamos com documentos e seguindo um pensamento logico, parece que trabalham com o objetivo de difamar o próprio povo. Tem brasileiro que não sabe que combatemos na II guerra mundial, e aqueles que sabem desconhecem a ajuda brasileira, destruindo o orgulho nacional, complicado.
    jota

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